sexta-feira, 7 de agosto de 2009

"O PAI DOS EFEITOS ESPECIAIS "

"O PAI DOS EFEITOS ESPECIAIS "


Apesar do mundo 3D estar dominando o mercado de filmes atuais, tanto em filmes de animação, quanto em efeitos especiais, me sinto na obrigação de fazer homenagem ao homem que considero ser o pai de nosso “ofício” 3D. Apresento a seguir uma breve biografia desde grande homem, que nos primórdios do cinema, trouxe tanto ilusão para o cinema, como encantou e povoou a imaginação de milhares de pessoas.

Senhoras e senhores, tenho a honra de apresentar, George Melies.

Marie-Georges-Jean-Melies nasceu em Paris no dia 8 de dezembro de 1861. Louis Melies, seu pai, era dono de diversas fábricas de sapatos. Desde pequeno, George expressava seus talentos artísticos, fazia caricaturas de professores e amigos, shows de marionete que ele mesmo construira com papel cartão, e também apresentações de mágica.
Em 1884 foi para Londres estudar inglês, mas ocupou a maior parte de seu tempo assistindo shows de ilusionismo. Em seu retorno a Paris, George foi forçado a trabalhar em uma das fábricas de sapatos de seu pai, levando-o a aprender dicas sobre mecânica que reestruturaram sua carreira como diretor. Paralelamente, ele criava caricaturas para o jornal satírico “Le Griffe” sobre pseudônimo de Geo Smile.
Quando seu pai se aposentou em 1886, ele passou os negócios da família para os filhos e George vendeu suas ações e comprou o Teatro Robert-Houdin.
George abriu o teatro ao público em 1888 onde atuou poucas vezes, dedicando-se posteriormente a gerencial o teatro. Em 1895, Louis e Auguste Lumiere enviaram um convite a George Melies, para assistir a primeira projeção de um filme animado(Motion Pictures), o que acabou por influenciar definitivamente a carreira de George. Os Irmãos Lumiere inventaram o cinematógrafo, um aparelho que filmava, imprimia e projetava filmes. A projeção ocorreu no porão de um Café, em 28 de dezembro de 1895.
Nesta apresentação, George percebeu o potencial da magia do cinema e chegou a oferecer dez mil francos suiços pelo aparelho aos Irmãos Lumiere, mas eles recusaram, dizendo que era um mero aparelho científico sem potencial comercial. Porém, não satisfeito, e utilizando de sua experiência em mecânica aprendida na época em que trabalhava em uma das fábricas de sapatos de seu pai, George construiu sua própria camera com algumas peças estocadas que estavam em seu teatro e iniciou seu primeiro filme em 2896, que falavam sobre eventos da época. Seus filmes eram apresentados entre os atos das peças em seu teatro, que encantava a platéia, afinal, qualquer imagem que se movia era considerado mágica.
Mas, quando George estava filmando o tráfego de veículos em frente á Casa de Óperas de Paris, sua câmera enguiçou. Ele consertou sua câmera e continuou suas filmagens, mas quando viu seu filme, notou que alguns objetos sumiam e reapareciam na tela. Um ônibus se transformava em um carro funerário, um homem em uma mulher, etc.... nos momentos em que a câmera estava enguiçada, o tráfego e os pedestres continuavam se movimentando, mas como o filme não continuou filmando por um tempo, parecia que os objetos e pessoas mudavam instantaneamente.
Quando descobriu que este “acidente”, poderia ser reproduzido novamente, ele começou a realizar uma série de filmes de pequenos truques de imagem.
Seu primeiro filme de truque foi “A mulher que desaparece”(no original, “The Vanishing Lady”), onde ele colocava uma moça sentada em uma cadeira, a cobria com um pano, parava a filmagem,
retirava o pano para mostrar que a moça havia sumido, parava novamente a filmagem, e fazia a moça reaparecer como um esqueleto.
Melies abriu sua própria companhia, a Star Film, e de 1896 a 1912, ele produziu mais de 500 filmes. Ele fez filmes sobre atualidades, dramas, fantasiosos e comerciais. George percebeu que seria necessário uma localidade para realizar seus filmes, e construiu um estúdio em Montreuil em 1897. Seu estúdio era feito de vidro, o que permitia utilizar iluminação natural, posteriormente se tornando o primeiro europeu a utilizar luz artificial.

Melies deixava sua imaginação fluir livremente e foi descobrindo novas técnicas de efeitos especiais: Dupla exposição (que consistia em filmar, rebobinar o filme e filmar por cima) e Superposição (que poderia ser feito a partir de fundos pretos).
Nesta época, Melies estava criando filmes de truques regularmente, em sua maioria, infelizmente se perderam no tempo. Alguns dos filmes “sobreviventes” incluem “The Astronomer´s Dreams”, “The Four Troublesome Heads” e “After the Ball” (creditado como a primeira cena de nudez no cinema). Um dos seus filmes mais ambiciosos foi filmado em 1899, chamado o “O Caso de Dreyfus” (no original “The Dreyfus Affair”), e com ele iniciava os filmes com narrativa, onde a história prosseguia cena após cena, e utilizando vários efeitos especiais que ele havia criado.
Melies também criou o primeiro filme de terror e utilizava muita maquiagem.
Seu filme mais importante foi “A Trip to The Moon” (Viagem à Lua), de 1902, baseado nas histórias de Julio Verne, “Da Terra par a a Lua” e de H.G.Wells “O primeiro Homem na Lua”. O filme tinha 15 minutos e custou 10 mil marcos franceses, provavelmente, o filme mais caro criado até então.
Porém, este também, foi o primeiro filme pirata a ser lançado no mundo (sim, desde 1900, já existia pirataria de filmes). Melies exportava seus filmes para a América, mas as companhias de Thomas Edison e Sigmund Lubin, secretamente faziam cópias deste filme.
Edison fez uma fortuna vendendo suas cópias e Lubin tentou até vender uma versão pirata para Melies, o que fez ele colocar um “indicador” na parte de trás de seu filme, para legitimar seu produto como original.
Apesar da popularidade de Melies, ele já estava sendo ultrapassado por outros criadores de filmes, como Edwin S. Porter e Ferninand Zecca. O filme “The Great Train Robbery”(1903), de Porter, foi considerado o primeiro filme realmente narrativo, pois as narrativas de Melies eram mais estáticas.
Para Melies, a câmera era como um espectador, então se o espectador nunca se move, a câmera também não deveria se mover. Outros criadores de filmes, estavam começando a utilizar cenas separadas para compor cenas, e o gosto da audiência foi sofisticando cada vez mais. Houveram inúmeras imitações de Melies depois de 1900, e o último sucesso de Melies foi “The Conquest of the Pole” (1912), e nesta época ele já estava falido e saiu de cena.
Melies foi redescoberto em 1926, por um edior de uma revista de filmes chamado Leon Druhot, que publicou uma história sobre este criativo diretor.
George Melies recebeu honras da Legião Francesa em 1931, e depois de Ter participado de uma entrevista no rádio, faleceu na pobreza em 21 de Janeiro de 1938.

É dito que George Melies foi o primeiro a colocar efeitos especiais consistentes em filmes, e também, pela sua grande contribuição ao mundo, em acreditar que o cinema tinha possibilidade de se tornar realidade. Melies é criticado frequentemente por ter feito filmes que simplesmente se baseavam em efeitos, mas seus filmes foram mais que isso, eles mostravam em tom de paródia, fatos da época em que vivia. Sua família continua até hoje a procura de encontrar e restaurar seus filmes. Ao menos 400 dos negativos de seus filmes originais foram utilizados para confeccionar botas para o exército Francês na Primeira Guerra Mundial, e outros filmes, foram destruídos pelo próprio Melies em momentos de frustração. Originalmente foi pensado que 140 filmes dele ainda existiam, mas em 2000 foi encontrado o filme numero 200. Acredita-se, que o legado de Melies não está totalmente perdido, mas sim, apenas aguardando para ser encontrado.

George Melies foi um grande homem, que permitiu ao mundo, experimentar a magia do cinema como conhecemos hoje.